Saberia eu despertar-te rosa? Acordar-te botão e fazer-te abrir as pétalas? Saberia eu escrever-te a pele com a ponta da língua, como o poeta escreve a folha limpa? A que sabe o beijo quando os lábios predispostos se entreabrem para receber os outros? Eu diria que os teus sabem a menta e açafrão, cantam as palavras e recitam o refrão duma música que acabaste de escrever.

Seguro-te o torso, enlaço-te o corpo e conduzo-te no ritmo certo duma música inaudível mas que sabemos de cor. Danças, danças-me colada em mim, nesse suave frenesim, nesse calor sem fim que faz as faíscas cariem dum céu sem nuvens onde as estrelas piscam e os olhos entreabertos esperam o fogo das bocas molhadas. É noite e tu continuas acordada, eu agarro-me aos pensamentos que te sonham em mim abraçada.

© 2021 - António Almas



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